sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Afiliada da Globo demite em Manaus

Por Altamiro Borges

Como ensinava o jornalista Cláudio Abramo, a única liberdade de imprensa existente nas redações é a dos donos dos veículos. Nesta quarta-feira (4), o apresentador do telejornal “Bom Dia Amazonas”, Clayton Pascarelli, foi demitido da emissora afiliada da TV Globo no Estado. A sumária dispensa ocorreu um dia após ele ter criticado o governador do Amazonas, José Melo (Pros), por sua atuação criminosa no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, que resultou em 56 mortes.

Segundo relato de Daniel Castro, do site Notícias da TV, “no telejornal de terça-feira, foi ao ar uma reportagem sobre a visita do ministro da Justiça ao Amazonas. No final, em uma entrevista coletiva, o governador dizia que avaliava conceder um pacote de regalias aos presos do Estado. Coapresentadora do Bom Dia Amazonas, Luana Borba questionou que era ‘no mínimo curioso’ dar privilégios a detentos que cometeram uma ‘barbárie’. ‘Bom, deste governo nada mais me assusta’, questionou Pascarelli em seguida... Ainda na terça, ele foi avisado de que não apresentaria o telejornal no dia seguinte. Um diretor da emissora entrou na redação gritando que seu telefone não parava de tocar por causa da crítica do jornalista”.

Ainda segundo o texto, Clayton Pascarelli já estava na mira dos donos da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo. “Especialista em segurança pública, ele é repórter investigativo (é diretor da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e um âncora crítico. Secretários do governo estadual se recusavam a participar do telejornal matinal para evitar os questionamentos do jornalista, que já vinha recebendo alertas de superiores sobre os transtornos que seus comentários causavam à casa. Procurado pelo Notícias da TV, Pascarelli não quis falar sobre sua demissão, mas confirmou que foi motivada pelo comentário sobre o massacre de presos”.

Diante do ocorrido, Daniel Castro acrescenta: “A demissão de Pascarelli evidencia a fragilidade da independência jornalística de afiliadas da maior rede de televisão do país. Ele não foi a primeira vítima da pressão de governos [sic]... A pressão sobre jornalistas investigativos de afiliadas, principalmente do Norte e Centro-Oeste, é tanta que muitos deles sugerem reportagens para colegas do Fantástico, ao invés de eles mesmos as produzirem. Além do risco de perder o emprego por causa de políticos, há a ameaça de grupos criminosos”.

Ou seja: a única liberdade de imprensa existente nas redações é mesmo a dos donos dos veículos. E ainda tem jornalista que chama o patrão de companheiro!

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